Eu abro uma fresta entre os abraços. Meio perdido e inquieto, procuro-me nos espaços. À noite penso, de dia trabalho e, no fim da tarde, brindo ao sol numa prece. Mora em mim uma brecha que se estabelece entre a esperança mais larga e a mais tenra felicidade. Eu sou fiel à verdade porque em mim reside um desejo puro de viver a totalidade. Esse desejo rege a minha vida inevitavelmente crua, mostrando-a nua, de maneira tão lenta e leve quanto uma pluma que cai de uma árvore. E é nesse momento que a verdade me debruça, com a mão na nuca, deixando meu corpo tocar o solo, enquanto meu rosto se deleita com o sopro do vento e eu, lentamente, fecho meus olhos. Deitado, abandono-me no espaço e ponho-me a refletir sobre as coisas do mundo. Questiono as noites de lua, os raios de sol - que há tempos não me douram a pele; questiono toda e qualquer coisa que me impõe formas concretas e que me parecem absurdas - já que penso que a vida é música feita de refrões que não se repetem. O vento levanta-me os pelos, me assanha os cabelos e me arrepia a pele em noites lúdicas como esta. E, enquanto isso acontece, eu rondo a falta de compromisso, o sentido pávido da vida e procuro saber por onde anda a tão desejada e querida dignidade. Questiono, à noite, a minha e a tua verdade. A verdade fulgida e imaterial desse meu ofício. Tento sempre ser sol e lua em toda noite confusa e procuro entender as esquinas de cada rua por onde passo. Na vida ou no trabalho, sou meio assim: Hiperbólico, metafísico, probástico. Mas abro todas as portas dentro de mim para encontrar-me com a verdade mais pura e deletar tudo aquilo que não me serve, que não me ajuda - e que não precisa estar dentro de um ser tão solitário. Tento, a cada momento, reescrever a vida para um futuro breve, com a simplicidade de dedos que deslizam sobre a máquina que escreve... Afim de que eu externe o meu verdadeiro ser na grande folha em branco desse mundo; afim de que eu me empreste na totalidade dessa busca que só se desnuda quando a noite vai e o dia amanhece.
Do íntimo
Atualizado: 7 de jul. de 2018
Palavras bastante imersivas, com um toque que remete a poesia.
(Sou a Fernanda lá do blog FeehSCaires)
Gostei muito do seu poema. Principalmente a parte "tento todo dia reescrever a vida." Não é tão fácil reescrever a vida mas a gente não pode desistir. Beijos
Que texto incrível, parabéns pelo talento e que você continue escrevendo, não pare porque é um dom maravilhoso e que são poucos que possuem. Continue sempre!
Que texto maravilhoso!
Eu pude, de uma certa forma, sentir um pouco dos sentimentos que você descreve com riqueza de detalhes..
O que escreveu, com certeza, nos deixa uma reflexão sobre a vida, que é como um livro, que estamos escrevendo a cada dia... é só nosso, de mais ninguém...
Nossa vida, nossa história!
Bjs