
“I Know not what tomorrow will bring”. Escreveu Fernando Pessoa no dia 29 de novembro de 1935, horas antes de sucumbir a uma complicação hepática, provavelmente causada pelo excessivo consumo de álcool. Tenho cá minhas agonias. Minhas concordâncias e discordâncias dentro da arte, isso, todos sabem. Mas não desconto isso no álcool, desconto noutra parte.
Todos sabem também da minha inquietude em busca da originalidade em todo o meu “fazer artístico” seja no simples ato de assistir ou na árdua tarefa de confeccionar o próximo trabalho. Não restam dúvidas que o conhecimento nos traz mais agonia que felicidade. Tanto que pensei numa frase para consolar os que a fazem com originalidade.
Quando vejo algo genuíno e vou conhecer de perto quem fez algo tão criativo e original, descubro que muitas vezes o criador sofre por não ser compreendido. Confesso que isso me dá revolta, mas, cruelmente, também me dá um alívio por saber que não estou sozinho.
Porém, essa constatação me aparece frequentemente em conversas de bar, de camarim, em trocas de e-mail, postagens em redes sociais ou em publicações feitas em alguns jornais sob a voz da crítica (algumas vezes certa e muitas outras equivocada e mais rasa que os açudes do nordeste no verão). Restou-me pensar, para as vítimas dos olhares padronizados, e para mim mesmo, a assertiva: “A tudo que é genuinamente novo, normalmente se tem repulsa.”
Mas o conhecimento também traz alegrias e, por vezes, o conforto da alma. Em se tratando de escritores... Principalmente depois da morte. - O que, para eles, já não adianta nada! - Hoje, estou profundamente abismado com a obra inédita de Fernando Pessoa, que vem para dar-nos um pouco mais de coragem para “brigar” por aquilo que acreditamos artisticamente. Hoje pensei: “Sim, estou no caminho certo! Sim, é mesmo nesse caminho que não se encaixa em “caixinhas” ou que nem sempre segue padrões, que devo continuar apostando. Este é o caminho que devo perseguir até o fim da minha vida como artesão de qualquer espécie arte que me valha”.
Contudo, devo confessar que trilhar esse caminho é difícil pra burro! A toda hora tem alguém querendo te empurrar para uma espécie de “Fordismo Artístico”; querendo que você entre na “linha de produção”. Quando digo isso, falo de “senso de criatividade e de originalidade artística” que, para se ter, é preciso ter, acima de tudo, liberdade criativa. Quando a falta dela acontece, chega a me dar Síndrome de Hamlet: “Ser ou não ser... Esta é a questão!”.
Li hoje que recentemente descobriram duas arcas do grande Fernando Pessoa, contendo mais de 30 mil páginas inéditas e ainda não publicadas em nome do autor. (Material para mais de uma década de publicações...). Ele realmente era um trabalhador incansável! Fiquei encantado e extremamente feliz com o conteúdo de sua obra que, por ironia do destino, vai de encontro a tudo que tenho dito.
Agora busco os originais ainda não traduzidos. E para o infinito gozo dos corações e da alma de quem persegue a originalidade, segue trecho do livro “Prosa de Álvaro de Campos” (um dos Pseudônimos de Fernando Pessoa), obra recém publicada pela Editora Babel:
"Vós todos que tendes uma escola, que andais sob a canga de uma orientação, que pertenceis a qualquer cousa que acabe em ismo, que sois quaisquer entes que acabem em istas:
Para quê o limite se para ser limitado basta existir? Criar é libertar-se! Criar é substituir-se a si próprio! Criar é ser desertor! Substituamos as personalidades à personalidade.
Que cada um seja muitos! Basta de ser para si a primeira pessoa do singular de qualquer pronome ou verbo. Sejamos a pessoa absoluta do Plural incomensurável. Menos que isto é a arte do passado!
Acabemos com o não haver maquinas no verso, e com o haver versos com a mesma medida para tudo - fato-feito da inspiração barateira. Tragam-me isso por causa de não terem casa! Não façamos a apologia dos heróis - mas dos completos!
Ser herói é ser tudo num só ato de vida! Queiramos mais! Queiramos ter o heroismo!
Queiramos mais!"
Diante disto, resta-nos apenas querer mais!
Oscar, querido, não sabia desse achado recente (de 2015?) de novas obras de Fernando Pessoa. Houve uma época em que o li muito e essa leitura influenciou muito meu primeiro livro (lançado em 2008). Mas creio que por volta de 2002 ou 2003 comecei a lê-lo menos, embora ainda haja muito que explorar, só dentre aquilo que já está publicado (aliás, do que tenho do autor aqui em casa). Sobre a bebida, Fernando Pessoa (sob o nome de Bernardo Soares) tem um dito espirituoso no Livro do Desassossego. Ele escreveu o seguinte:
" Se um homem escreve bem só quando está bêbado, dir-lhe-ei: embebede-se. E se ele me disser que o seu fígado sofre com isso respondo: o que é…
Ah, que pessoa incrível foi Fernando Pessoa, não é mesmo? Adorei ler este post maravilhoso e inspirador!
Beijos. <3
Gosto muito do Pessoa. Acho seus escritos incríveis e alguns até enigmáticos. Os sentimentos confusos que muitos de seus textos passam, são totalmente tocantes.
Olá
Ainda não tive a oportunidade de conhecer bem Fernando Pessoa, infelizmente poesia nunca foi meu forte, uma coisa que quero muito mudar.
Concordo muito com o que você falou sobre originalidade, é uma coisa que as pessoas não conseguem lidar muito bem, as vezes vejo algo tão interessante, e mesmo não sendo tão original, mas só inusitada, mas quase todos torcem o nariz, e eu fico me perguntando, será que vimos a mesma coisa?
Uma das coisas que mais acho triste em mim é que não consigo gostar de livros clássicos de literatura. Claro que já ouvi falar de Fernando Pessoa rs, mas nunca li nada dele. Infelizmente pra mim, gostaria que fosse diferente rs
Gostei da frase “A tudo que é genuinamente novo, normalmente se tem repulsa.”, é uma verdade atemporal. Acho que sempre, tudo que será novo e sinônimo de mudança, acaba gerando repulsa antes de qualquer outro sentimento.
Parabéns pelo texto.
Grande beijo,
Além de 50 Tons
https://almde50tons.wordpress.com/