top of page
​​Imprensa

Espetáculo Necessário: Crítica Teatral - Realpolitik

Em plena Av. Presidente Vargas, num espaço não convencional – empresarial – a cultura é desafiada e se faz presente se reinventando; realizada em cooperativa, impulsionando a arte em imersivo criar teatral multifacetado: confluência da música, teatro e as artes plásticas.

Espetáculo Necessário: Crítica Teatral - Realpolitik

“REALPOLITIK”

(Texto: Daniela Pereira de Carvalho)
Direção: Marcello Gonçalves .

Em plena Av. Presidente Vargas, num espaço não convencional – empresarial – a cultura é desafiada e se faz presente se reinventando; realizada em cooperativa, impulsionando a arte em imersivo criar teatral multifacetado: confluência da música, teatro e as artes plásticas.

Em cena: “Após o rompimento de uma barragem com 150 vítimas, um jornalista confronta o CEO da empresa”.

CEO são executivos que lideram e administram as áreas de uma empresa, possuindo maiores responsabilidades ao gerir a mesma – um embate que retrata, e muito, nosso momento atual.

A exposição/instalação de Victoriano Resende conversa em plena comunhão com os acontecimentos cênicos, desde o cenário do espetáculo às obras expostas em total conformidade com a cena teatral, intitulada: “A Ataraxia dentro do Caos”. Ataraxia – indiferença, apatia, frieza, desleixo.

Buscando referência na obra de Salvador Dali, Victoriano usa seu habitual mergulho na liberdade aliando-se à técnica, fazendo analogias com a tragédia que discorre no texto: lama e água suja, troncos de madeira, caos, dores, medo… Contextualizando as artes plásticas com o espetáculo.

No espetáculo a ação é conduzida com o intuito de provocar a reflexão, esse é um dos seus grandes objetivos – provocar a reflexão para sairmos da inércia – com o manuseio realista que se deflagra, combusta, queima, numa empresa privada com um sistema econômico que visa lucro e acúmulo de riquezas – em detrimento da desvalorização da vida humana.

O retrato da consequência da presente RealPolitik em aguda realidade potencializando tragédias no confronto que reverbera na vida, nas vítimas.

O espetáculo, através do texto, inseri o personagem CEO da empresa ( Pedro Osorio ), como a real Ataraxia que está no nosso presente, incendiando (-se) vigorosamente numa extensão a comprometer cruelmente a vida humana. No combate a essa empáfia vil, vem carregado de dores, atacado por uma doença terminal, numa força brutal que se contrapõe ao seu lirismo tocante – que para mim é o lado poético que o texto traz – numa bela construção do personagem do jornalista ( Oscar Calixto).

Um espetáculo onde tudo que é proposto a partir do texto/drama que se converge em perfeito desfecho teatral lindamente trabalhado e costurado pela cumplicidade cênica, talento, doação, senso crítico a serviço do público, fazendo da ficha técnica dessa empreitada teatral uma análise inspecionada, controlada pelo grande profissionalismo no cenário da cultura.

Tudo isso colocado em cena na condução do também ator, Marcello Gonçalves, gerando movimentação cuidadosa, limítrofe, potente -equivalente ao estudo recorrente e respeitado de seu trabalho atoral – que no momento imprimi seu olhar como diretor atento para obter o resultado reflexivo na provocação cênica que se propõe: Num “teatro do real” alcançando e ilustrando nossa passagem histórica, maculada, que esmaga a autoestima deteriorando nosso futuro.

Uma direção meticulosa, na minúcia de cada frase do texto, focando em todos os pormenores do que está sendo feito. Um necessário aporte sob o olhar de Marcello Gonçalves.

Daniel Leuback em sua direção de movimento dialoga com inserções que reflete identidade ao trabalho dos atores corroborando certeiramente com a direção.

Marcelo H nos transporta com enorme carga de emoção na sua trilha sonora à tragédia com pitadas de lirismo, juntamente ao áudio de um desmoronamento real. Forte!! Necessário!

Paulo Cesar Medeiros é minimalista em seu desenho de luz, mostrando em coerência com o drama, que o menos é muito mais do que imaginamos. Mestre!

O texto real e político – REALPOLITIK – de Daniela Pereira de Carvalho é de extremo cirúrgico em sua retórica de pragmatismo exuberante. Oferece a chave-mestra para a realização desse portentoso trabalho que foi discorrido acima.

O rigor da força culta de uma escrita.

A costura cênica dos atores Oscar Calixto e Pedro Osório é acuradíssima. Atuações que definem a excelência de suas entregas: Ataraxia – indiferença, descaso, crueldade – confrontando a poesia humanitária de um jornalista levado às últimas consequências para defender a vida.

Pedro Osório e Oscar Calixto plenos, intérpretes na exatidão feita sob medida. Bravo!!!

“REALPOLITIK” é teatro como inquirição, prática, sapiência, desenvolvendo com o desfrute artístico o entreter, provocando e trazendo o senso crítico.

Corram! Assistam! Imperdível! NECESSÁRIO!

Por Francis Fachetti – Ator, diretor de movimento, bailarino, coreógrafo, dançarino de flamenco e crítico teatral e de dança.

@f.fachetti

@dragoescaiomonologo

Home
Botão Home
bottom of page